Marcelo Almeida do Nascimento

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Neste blog você encontrará os textos originais dos meus projetos literários, peças teatrais, roteiros e apresentação de jogos de tabuleiro. osbatutas@yahoo.com.br

Escrever para quê?

O título acima faz parte de uma discussão que termina na seguinte conclusão: Ler para quê? Há muitos anos tenho desenvolvido minha teoria a respeito dos hábitos da leitura e do gosto pela literatura. Por isso estou voltando a usar este blog para discutir um pouquinho sobre a falta de leitura e o comprometimento disso na escrita. Afinal, para que escrever se não há ninguém para ler.



domingo, 25 de abril de 2010

Teoria das Batatas

E NÓS, AS BATATAS...


“ Não eram comedores de batata
Como supôs o holandês

Nem comedores de mandioca

Vivem eles mesmos na terra
Desenraizados

Mostram suas cascas sujas e ásperas (...) “

Eliane Machado



Talvez fosse possível, e Shakespeare bem que poderia conceber, numa tarde ensolarada de domingo, almoçando solitariamente em um Macdonald´s de um grande Shopping Center mais próximo de sua residência, durante a devoração de um Big Mac acompanhado de batatas fritas e Coca-Cola (diet para não engordar), a seguinte premissa com toda a naturalidade e inteligência que lhe eram peculiares: Há mais semelhanças entre nós e as batatas do que supõe a nossa vã consciência.

É mais certo que não. Mas também não é impossível imaginar.

Nós, homens, seres belos, animados e racionais, sempre temos a tendência natural de abolirmos ou repugnarmos qualquer semelhança ou comparação com os outros elementos naturais da Terra, ou seja, os seres animais, vegetais e minerais. Basta puxar pela memória e lembrar o quanto custou para o mundo aceitar a idéia de que o homem veio do macaco e não de Deus. Não que eu acredite que o homem veio da batata. Quando você estiver comendo um saco de batatas fritas não se preocupe, pois não estarás cometendo batatofagia nem desejando a mulher do próximo (no caso, a do Seu Batata). Mas a encare de frente e reflita: Você vai ver que nossa vida tem muitas semelhanças com a vida útil de uma batata tanto quanto a certeza de que evoluímos a partir do macaco.

Esta é a idéia. Nossa vida é igual a vida de uma batata, e tal como tem um ciclo de vida bastante parecido dentro do nosso bio sistema capitalista selvagem amplamente globalizado.

Senão vejamos. Nós, homens, quando nascemos, não temos ainda aquela consciência crítica e auto-sustentável dos nossos semelhantes. Nascemos sem o grau de consciência descrito por Rousseau e, portanto, não nos relacionamos no mesmo nível com os outros seres. Vivemos na dependência dos próximos a nós. E como já foi comprovado cientificamente, nossa personalidade e vida futura dependem muito da quantidade, e qualidade, de afeto, carinho, atenção e educação que recebemos na nossa primeira fase de vida. Nascemos com uma casca - o que impediria, numa alusão à bíblia, a inserção do pecado em nossas vidas, e vimos ao mundo de maneira imaculada, embora pura; imperfeitos, inaptos a viver nesta nossa sociedade. Sujos com o sangue e excrementos da nossa própria mãe.

A mesma coisa ocorre com a batata. Como todos os vegetais tubérculos, precisam de um solo propício para se desenvolverem, cuidados com sua plantação e boas condições para se desenvolver e vir a crescer, até ser arrancada das entranhas da terra (a mãe terra) e se integrar a sua sociedade, estando também ainda com sua casca suja e imprópria para consumo, ou melhor, integração social.

A casca que circunda o homem logo após o seu nascimento vai sendo limpa, aparada, cuidada, para que logo ele possa ser incluído em nossa sociedade. Com as batatas, o análogo processo de beneficiamento visa coloca-las dentro de um saco. E enquanto as batatas são selecionadas e lavadas, nós, homens, recebemos esse mesmo tratamento através da escola, religião, família, que nos introjeta valores morais da nossa sociedade, destacando-nos entre os muitos outros iguais a nós. Enquanto as batatas são ensacadas, os homens são inseridos em divisões estamentárias sociais e econômicas praticamente intransponíveis que, por serem tão rígidas, assim como ocorre com as batatas, salvo por sorte econômica, política ou erro do produtor, jamais acabam se misturando.

O futuro, tanto para os homens quanto para as batatas, é a sociedade de consumo. Ambos serão comidos, deglutidos, dilacerados, sempre de acordo com sua posição social ou preparação para o consumo. Tal como os homens, as batatas também são discriminadas para serem aceitas em uma determinada feira, empresa, restaurante, supermercado ou na escola. As batatas, assim como os homens, também são divididas em várias partes apenas para realizarem uma única tarefa ou darem um único prazer. Para tanto, umas são cortados em forma de palitos e apresentadas junto com hamburgueres, outras são fatiadas em rodelas e acondicionadas em sacos brilhantes, tantas são trituradas, amassadas, ou têm retirado apenas sua força vital (a fé-cula) para dar sustento ou gosto para outros pratos, outros prazeres, outras apresentações, acabando por nunca se aterem ao fato de que são capazes de realizar muitas outras coisas ao contrário do que lhe ordenam e instruem a fazer.

A divisão do eu da batata e do eu do homem é essencial para o total aproveitamento de ambos pela sociedade.

É raro o homem que mantém - e aplica - todos os seus atributos e considerações morais e sociais, conquistados, ensinados ou refletidos ao longo de sua vida. É necessário, sempre, que ele abra mão de algum valor interior para poder dar sustento ao seu valor principal, sua própria vida... Embora atualmente muitos homens estejam tão divididos em si mesmos que nem esse valor levam mais em consideração. Assim como a batata, o homem também se divide em vários outros “tipos” de homem para dar sustento a ele e a sua família; se abnega da sua própria moral para manter-se em um determinado emprego, se sujeita a deixar de lado seu espírito intelectual para ganhar mais dinheiro em um determinado local, etc e etc.... tal como a batata, que nunca poderá ser ingerida de uma única vez sem ser cortada, amassada, cozida, frita ou assada .

Esse é o fim do homem. Vence, ou morre triturado por uma enorme boca de dentes invisíveis, mas poderosos e devoradores. Aquele que estiver mais bem preparado, mais bem empregado, mais bem disposto, contendo ou sabendo todas as novas invenções tecnológicas, ostentando beleza e dinheiro triunfará digestivamente no sujo estômago capitalista. Não é por menos que as batatas do Macdonald´s fazem tanto sucesso. Selecionadas, sequinhas, crocantes, acompanhadas de catchup ou maionese, são uma deliciosa necessidade para saciar a fome de consumo e poder do sistema capitalista atualmente vigente.

Nós e as batatas somos iguais dentro da nossa sociedade de consumo. Temos até o mesmo fim. Ou somos honradamente e com sucesso consumidos por grandes grupos que nos usam para se manterem no poder ou fatalmente somos triturados para acompanhar outras provisões, ou produções de somenos importância para a elite.... isso quando não viramos tão somente batata-palha, que é a realidade de muitos homens: comum, não necessita de apresentação, pode ser digerida sozinha ou acompanhada, e não atrapalha o consumo de outros pratos, ou de outros interesses.

3 comentários:

  1. Essa não poderia faltar!
    Bjs Juddy

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  2. acho que esta faltando PINK VALENTINE esse tbm era bom!
    bjinhos Magda

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  3. Meu caro,

    Existem batatas de todo jeito mesmo... Quero saber qual é a embalagem chamada escola pública em que são colocadas tantas batatinhas: umas indefesas, prestes a serem descascadas sabe-se lá como; outras violentas, querendo devorar, não para se transformar em purê, mas para aniquilar... ui...
    Parabéns pelas reflexões!!!

    Beijos grandes
    Juliana (Alice e Eloisa tb)

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