Marcelo Almeida do Nascimento

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Neste blog você encontrará os textos originais dos meus projetos literários, peças teatrais, roteiros e apresentação de jogos de tabuleiro. osbatutas@yahoo.com.br

Escrever para quê?

O título acima faz parte de uma discussão que termina na seguinte conclusão: Ler para quê? Há muitos anos tenho desenvolvido minha teoria a respeito dos hábitos da leitura e do gosto pela literatura. Por isso estou voltando a usar este blog para discutir um pouquinho sobre a falta de leitura e o comprometimento disso na escrita. Afinal, para que escrever se não há ninguém para ler.



segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O cheiro

O CHEIRO
Sempre fui condenada pelo o que faço. Ninguém, jamais, concordou com o que faço. Sofro de ciúmes sim. Isso é sinal de que tenho amor. De que tenho muito amor para dar. Mas quero exclusividade. Não me venha dizer que amar é divino, que devemos entender o homem amado quando ele sai com outra, essas baboseiras canônicas de lavadeiras do século passado, que enquanto esquentavam a barriga no fogão e a esfriavam no tanque, fingiam não saber que os maridos saiam para gozar a vida dentro e fora dos úteros disponíveis e assanhados pelo mundo. Sou uma mulher romântica. Apaixonada pela vida. E por mim mesma. Mas também sou carente. Necessitada de carinho. Carinho sincero, honesto e fiel. Não existe um amor verdadeiro sem essas características: sincero, honesto e fiel. Eu sou assim. Por que o homem que eu amo também não pode ser? Não sou tão ciumenta. Uma doente terrível, capaz de matar por ciúme. Juro. Podem perguntar para os meus dois últimos namorados e três maridos. Perguntem a eles se eu era ciumenta ao extremo. Se eles quisessem ir assistir ao maldito jogo de futebol na casa do amigo eu deixava; se eles quisessem esticar o happy hour eu deixava; se eles quisessem ir pescar eu deixava. Era tudo liberado. Eu não sou como essas mulheres boçais, recalcadas e neurastênicas, que ficam ligando de cinco em cinco minutos para saber onde o marido está, com quem está, que barulho era aquele ao fundo da ligação, ou o porque do silêncio. Eu não. Sempre fui liberal. Apaixonada. Ciumenta. Caretona. Não idiota. E sabem por quê? Porque eu cheiro! Eu cheiro! A arma infalível contra a traição. Cheirar. Isso mesmo!
O cheiro do escroto e do pênis do seu homem. O cheiro do sexo do seu homem. Há mulheres que quando encontram o marido ou o namorado lhe cheiram o pescoço para sentirem algum perfume de puta na sua pele. Outras vasculham a roupa atrás de marcas de batom; outras olham o lenço de pano para ver se não há marcas de batom. Sempre cheirei o sexo dos meus homens. Dos outros, do Marco Antonio. É isso o que eu sempre fiz. Uma coisa natural. Trivial.Como quando ele chegava na minha casa:
Oi meu amor, tubo bem? Como foi seu dia? (dou-lhe um selinho na boca)
A porcaria de sempre. Meu chefe estressado, o Moacir me azucrinando...
O Moacir? Aquele que trabalha no setor de fraude e não foi promovido? (tiro o seu paletó)
É... aquele chato mesmo!
(Peço para ele se sentar. Desabotoou o seu cinto, abro sua calça, desço o seu zíper)
Abra o olho querido! Esses executivos estressados são perigosos.
Pego com toda a delicadeza seu membro. Tiro-o da cueca. Cheiro tudo. Ponho a cara. Enfio meu nariz entre suas bolas e sua virilha. Sinto o leve odor de urina emanando do seu prepúcio, seus pêlos pubianos roçando minhas narinas, aquele cheiro ocre de suor misturado com o tecido da cueca, o escroto enrugado alisando minhas bochechas... Divino!
Sinto o seu cheiro. Aquele cheiro fantástico. O perfume do escroto é indescritivelmente maravilhoso. Sei quando ele está puro, imaculado, aguardando apenas o sexo da pessoa que o ama. Apenas o toque de quem lhe quer e deseja verdadeiramente. Não pode estar lavado. Nunca! Um sexo masculino cheirando a sabonete de lavanda de motel é uma prova insofismável de que houve traição. Fui enganada. E isso eu não perdôo. E eu não sou idiota. Sou romântica, ciumenta, apaixonada, caretona. Idiota não. Mas ele era como os outros. Como todos os outros que não toleram essa minha necessidade irrefreável de ser feliz. Da última vez em que estava externando minha necessidade, ele afastou minha cabeça delicadamente. Olhou-me nos olhos. Eu sorri. Seu semblante era duro. Fechado. Apertei o seu sexo. Fechei meus olhos. Mordisquei o meu lábio inferior. Demonstrei que o estava querendo. Ele apenas disse: Você é doente. Respondi. Eu te amo. Ele apenas disse: Você nunca vai parar com isso. Isso é doença. Doença. Respondi. Eu te amo. Ele apenas disse. Eu não agüento mais isso. Eu não sou obrigado a agüentar isso. Sempre é assim. Todos os dias são assim. Eu apenas disse. Eu te amo. Ele apenas se levantou do sofá, vestiu-se novamente, pegou sua pasta e apenas disse: Adeus. Procure um médico. Se cuide. Eu não quero mais você. Respondi. Eu te amo. Ele saiu. Sai atrás dele. Na porta pensei em lhe dizer que eu iria procurar um médico sim, que aquilo não iria se repetir novamente, que o considerava fiel, ele era o amor da minha vida. Só conseguia dizer eu te amo enquanto ele saia pela porta. Quase levantei para impedi-lo de sair. Só então me dei conta que era a quarta vez que eu estava indo atrás dele para pedir desculpas e que iria procurar tratamento para essa minha necessidade compulsiva de cheirar o seu sexo. O sexo do meu amado. Para fazê-lo entender que eu sou normal. Romântica, ciumenta, apaixonada. Para fazê-lo entender que eu cheiro por amor. Apenas por amor.

A religião é ainda solução (?!?!)

Uma ideia que teu tenho a respeito da falta de concentração dos nossos pequeninos, e também dos não tão pequeninos, dentro da sala de aula passa pela falta de religião. Mas não se trata da religião em si, de determinada crença ou do sentido etimológico da palavra (religar-se com Deus). Impulsionado pelo mantra invisível do capitalismo (commmprreeeee), a idéia de aprender com quem sabe mais que você acabou dando lugar para o aprenda só o que você precisa, destruindo assim a figura iconoclasta do pensador, do tutor, do filósofo, do conhecedor, enfim, do professor. Alie a isso a velocidade das informações, a prática desenfreada do consumismo e você verá que é absurdamente lógico ser completamente irracional perder tempo em sala de aula. Afinal de contas, do que eu preciso eu encontro fora dela. A solução imediata dos meus problemas, as respostas as minhas questões existenciais sobre o mundo não são respondidas em sala de aula, mas sim fora dela, de preferência na Internet.
A Escola serve para dominar e te fazer aprender o que uma sociedade ultrapassada e feudal quer na base da força, repetição, castigo e submissão. E por ainda manter essa base de ensino é que a nossa sociedade precisa da religião para ajudar na educação de seus cidadãos. Vou citar como exemplo apenas a igreja católica O padre, na sua posição dileta de intérprete das leis de Deus e iconizado para tanto, consegue – e retém, a atenção daqueles que estão em sua assembléia. Aí impera o temor perante o desconhecido, misturado com a esperança dos desesperados e a transmissão de responsabilidade dos sediosos em livrar-se dos seus problemas pessoais. Ao estar em uma reunião religiosa, a pessoa, por necessidade, medo ou curiosidade, permanece calada, concentrada, no mínimo pensativa, e assim permanece até o término da reunião. Se fosse submetida semanalmente a essa prática, um aluno, por mais encapetado que seja, poderia dispender na escola a mesma atenção, concentração ou, no mínimo respeito. Afinal de contas, o ser humano é um meio dialético de ver o mundo e de se ver no mundo. Delicioso, não é?